quinta-feira, 17 de setembro de 2015

O tetramorfo

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Na sua sequência canónica, os Evangelhos são Mateus, Marcos, Lucas e João e os seus respectivos símbolos o anjo/homem, o leão, o boi e a águia. As "quatro criaturas" que rodeiam o trono do Altíssimo no livro do Apocalipse (4:7-8) e que se tornaram nos símbolos dos Evangelistas tiveram origem no tetramorfo, descrito por Ezequiel. No final do século II, Santo Ireneu de Lyon, foi o primeiro a conectar o tetramorfo com o Evangelho. Ele mostrou que o leão simboliza a ideia de realeza, o boi de sacrifício; o homem a encarnação e a águia o espírito que sustenta a Igreja. Contudo, foi São Jerónimo no século IV que associou as figuras com os evangelistas. O evangelho de Mateus começa com a Encarnação portanto o seu símbolo é o anjo/homem; Marcos começa com a figura do Baptista - "A Voz do que clama no deserto" (1:3), que foi tão solitário e tão poderoso como o rugido do leão. Lucas debateu ao máximo o tema do sacrifício por isso tem como símbolo o boi e João alcançou elevada espiritualidade no seu Evangelho, que se assemelha com o voo de uma águia.
Nesta imagem podemos ver ao centro a figura de Jesus como Emperator Mundi - Imperador do Mundo - entronizado numa posição frontal perfeita. Usa manto escarlate e um globo, símbolo da sua soberania no mundo. Os pés, contudo, estão descalços para demonstrar a sua humanidade e humildade. À sua esquerda (o lugar reservado para os fracos) vemos ma figura alegórica que simboliza a Sinagoga ou a Lei de Moisés. A figura segura as Tábuas da Lei mas a sua postura é instável e o seu bastão está partido. À sua direita (o lugar reservado para os bons e justos) a figura alegórica representa a Igreja e a fé cristã. A figura serenamente segura o estandarte da vitória, símbolo da Ressurreição, o cálice e a hóstia. Também Cristo levanta a sua mão direita com os dedos indicador e médio juntos em sinal de benção. Os quatro evangelistas rodeiam-nos, representados nos seus símbolos.

Fernando Gallego," Cristo Abençoando", cerca de 1495, Museu do Padro, Madrid

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Missa de São Gregório

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A cena que encontramos mais frequentemente associada a São Gregório é a “Missa de São Gregório”, cuja lenda não seria anterior ao século XIV, pois na Legenda Áurea não é mencionada. No entanto, podemos encontrar uma história semelhante de uma mulher que não acreditava que o pão que ela mesma oferecia ao santo, e que este usava na Eucaristia, fosse o Corpo de Cristo; mas são Gregório orou diante do altar e o pão oferecido pela mulher “havia-se transformado num pedaço de carne do tamanho de um dedo”. Esta história apareceu já representada numa miniatura do séc. XII e coincide com a chegada ao mosteiro de Weingarten de uma relíquia do Sangue de Cristo e com a polémica acerca da presença real ou não de Cristo na hóstia consagrada, assunto que ficará dogmaticamente resolvido até ao IV Concílio de Latrão de 1215 em que se formula o principio da Transubstanciação. Contudo, a lenda que se torna popular no século XV e que se reproduzirá profusamente na arte conta que São Gregório estando em Roma, na basílica da Santa Cruz de Jerusalém, enquanto oficiava a uma Sexta-feira Santa, um dos assistentes terá duvidado da presença de Cristo na hóstia consagrada. Desse modo o papa ajoelhou-se e orou diante do altar e apareceu Jesus rodeado das Arma Christi – os instrumentos da Paixão – evidenciando as suas chagas sangrentas enchendo com a do lado o cálice que estava na mesa. Assim, são Gregório mandou pintar a imagem de Jesus como na sua visão e concedeu indulgências a quem orasse diante dela. Iconograficamente, esta Missa de São Gregório combina a representação do Varão das Dores, a versão ocidentalizada da Imago Pietatis bizantina. Ainda que o tema da Missa de São Gregório como símbolo da defesa do milagre da Transusbtanciaçao tenha desaparecido, a arte postridentina continuou a representar o Papa diante de Jesus mas agora como defensor da existência do Purgatório.

"Missa de São Gregório com Santa Catarina, São Tomás de Aquino e São Vicente Ferrer", Mestre do "Altar Agostinho", cerca de 1490, Nuremberga, Germanisches, Nationalmuseu

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

O Anjo do Grande Conselho

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Este tema aparece pela primeira na Rússia no século XV, revivendo a iconografia Bizantina do Anjo do Grande Conselho. Cristo é retratado como o jovem Emanuel, usando o sticharion de mangas compridas e largas, ornado com pérolas. Os atributos de Cristo, o Anjo do Santo Silêncio, são uma beleza que é "a imperecível jóia de um espírito gentil e sereno" ( 1 Pedro 3:4); uma presença discreta que " Não clamará, não se exaltará, nem fará ouvir a sua voz na praça." (Isaías 42:2); a docilidade "Ele foi oprimido e afligido;
e, contudo, não abriu a sua boca;como um cordeiro,foi levado para o matadouro;e, como uma ovelha que diante de seus tosquiadores fica calada,
ele não abriu a sua boca.( Isaías 53:7). A ausência de qualquer pergaminho, bem como as mãos colocadas em cruz sobre o peito - a forma que os Ortodoxos assumem quando recebem a Comunhão - expressam o silêncio do Salvador e o seu convite à oração interior, inspirado pela invocação de David: " Põe, ó Senhor, uma guarda à minha boca; guarda a porta dos meus lábios" (Salmos 141:3) Os mais mais tardios mostram um halo em forma de estrela sobre a cabeça e asas, símbolos da energia que dá vida ao cosmos. Ambos são atributos da Sabedoria Divina.

Escola de Moscovo, Santo Silêncio, segunda metade do século XVIII, Collezione Bucceri_De Lotto.

 
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