A
iconografia do Paraíso deriva directamente da iconografia do Jardim do Eden. Na
arte paleocristã a água, uma fonte ou umas nascente, é umas das características
principais para a criação da ideia do Paraíso. Para ambos, o jardim terreno e o Paraíso celeste, a água é
uma presença fundamental: a nascente que emana no Jardim do Eden simboliza a
vida eterna; é uma fonte inesgotável e um símbolo de renascimento. Por este
motivo, a imagem do Paraíso tem quase sempre incluída uma fonte de onde nascem
os quatro rios do paraíso ou uma larga bacia que contém a água da vida de onde
os animais, simbolizando os crentes, que saciam a sua sede. Com o passar do
tempo a imagem da bacia ou da nascente deu lugar á fonte, representada no
estilo arquitetónico e decorativo da época. Graças também à popularidade do
Cântico dos Cânticos, a imagem da fonte num jardim fechado e isolado,
disseminou-se largamente na Idade Média.
Nesta
representação, as três figuras no nível mais elevado, a virgem à esquerda, o
Cristo entronizado ao centro e São João à direita compõem a Deesis. Cristo em
Majestade usa vestes papais, sentando num trono com representações dos
Evangelistas e dos profetas. Entre os seres humanos e o divino, a meio da
composição, estão anjos músicos e cantores. Tal como nas representações
paleocristãs o cordeio místico é colocado sobre a fonte da Graça. Uma fonte, em
estilo gótico final, recolhe a água que flui debaixo do trono de Cristo, tendo
dois grupos que circundam a fonte: á direita de Cristo a Cristandade está
representada na figura do papa ajoelhado junto da fonte, juntamente com outras
figuras do clero e devotos. Na esquerda vemos a representação do Sumo
sacerdote, vendado, que representa a Sinagoga.
Jan van Eyck e assistentes, A Fonte da Graça, 1423-25, Madrid, Museu do Prado
Jan van Eyck e assistentes, A Fonte da Graça, 1423-25, Madrid, Museu do Prado