O nascimento de Maria (ou Miriam em hebraico) foi completamente normal. Os elementos divinos e sobrenaturais da natureza e conceção de Maria ocorreram muito antes de Ana dar à luz. Até mesmo as palavras carinhosas e a atenção da sua mãe, largamente retratados no Proto-Evangelho de Tiago, retratam uma relação intensa e amorosa entre uma mãe e a sua primeira filha. Precisamente por causa destas qualidades muito humanas, as representações deste tema dos fins da Idade Média até ao Renascimento, apresentam registos preciosos de momentos históricos e costumes, com variadíssimos detalhes de decorações interiores e vestuário. A figura realista de Ana, nunca mencionada nos Evangelhos Canónicos, era muito popular na Alemanha incluindo entre as famílias de classe social mais humilde. É por este motivo que ela foi severamente atacada foi Martinho Lutero, que procurou “perseguir imagens” para longe do coração e dovoção dos fiéis por forma a restituir a pureza das Escrituras.
As duas mulheres na parte superior da composição poderão ser Ismeria, irmã de Ana, e a filha de Ismeria, Isabel, prima mais velha de Maria que se tornará a futura mãe de João Baptista. A sua mão repousada sobre o seu ventre relembra o gesto de Isabel no momento da Visitação. Ana, ainda exausta e pálida depois de ter dado à luz, delicadamente toma nos seus braços a recém-nascida Maria. À frente, três mulheres preparam uma bacia e toalhas para o primeiro banho da bebe. As sandálias de Ana aos pés da cama são um detalhe realísta, mas pode também ter um significado simbólico relacionado com o nascimento de Maria; elas relembram as sandálias que Moisés retirou diante da sarça ardente que milagrosamente ardia sem ser consumida. A sarça foi interpretada pelos exegetas cristãos como símbolo da virgindade de Maria que “gera luz sem decair”. Outra mulher segura uma pequena toalha, sendo ao todo dez mulheres sem a presença de nenhum homem na cena.
Mestre da Vida da Virgem, A Natividade de Maria, ca. 1460. Munich, Alte Pinakothek
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