quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

A Madonna e o Menino com uma colher


Não é novidade que os Evangelhos Canónicos são quase completamente silenciosos no tema da infância de Jesus. Duas passagens no Evangelho de Lucas é tudo o que se pode encontrar. Esta falta de informações é preenchida pelos Evangelhos Apócrifos e pela Legenda Aurea. A piedade e curiosidade populares fizeram surgir na arte várias temas que não são de tradição bíblica e muitas vezes nem apócrifa. Muitos temas nasceram para provocar sentimentos e emoções no espectador, caso contrário grande parte das representações da virgem com o menino que se conhecem (entre outras) nem sequer existiam.
Esta belíssima representação mostra-nos Maria que alimenta Jesus com uma sopa, onde talvez o menino quisesse tentar comer sozinho por segurar firmemente na sua mão uma colher. Sobre a mesa há uma série de elementos que podem representar simples objectos do quotidiano, ou então conter misticamente uma referência mais profunda que o autor quis deixar bem claro.
O sacrifício de Cristo (representado pela faca) que oferece o seu corpo (o pão) como redenção pelo pecado original (a presença da maça), sendo o fruto oferecido pela serpente a Eva e cuja presença da larva indica a corrupção. Maria, sempre jovem, apresenta um delicado véu que na realidade não cobre os seus cabelos, usando-os soltos finos e longos, como símbolo da sua pureza. (É desta forma que comumente vemos as santas virgens serem representadas). Ao fundo junto da janela, um livro e uma cesta aludem ás tarefas de Maria de oração e trabalho de fiação. São também elas de tradição apócrifa que Maria tendo vivido no templo desde os três anos de idade junto com outras meninas, foi a escolhida entre todas para tecer a púrpura e o escarlate, os mais preciosos de todos os materiais.


Gérard David, A Madona e o Menino com uma colher, c. 1515, Real Museu de Belas Artes

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