quinta-feira, 6 de agosto de 2015

A Transfiguração

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Na sua segunda carta, Pedro definiu-se a si mesmo como uma das “testemunhas da Sua majestade”, a espetacular, inefável manifestação da glória de Deus. A Transfiguração marcou o culminar da vida pública de Jesus. Juntamente com Pedro, Tiago e João ( os mesmos três apóstolos que adormeceram quando Jesus foi preso), Jesus ascendeu a montanha e foi transformado: “e o seu rosto resplandeceu como o sol, e as suas vestes se tornaram brancas como a luz (Mateus 17:2) Moisés e Elias aparecerem e falaram com ele. Neste momento, Pedro exclamou, “Senhor, bom é estarmos aqui (Mateus 17:4), e ofereceu-se para lhes erguer três tendas, uma para Jesus, outra para Moisés outra para Elias. Mas naquele instante uma nuvem brilhante envolveu-os a todos e as mesmas palavras ouvidas no dia do Batismo foram ouvidas: “Este é o meu amado Filho, em quem me comprazo; escutai-o (Mateus 17:5). Os apóstolos caíram por terra aterrados e quando recobraram os sentidos viram apenas Jesus. Termina este episódio com a cura do menino epilético.
 
Nesta pintura de Rafael, vemos a figura de Jesus ao centro da composição, vestido de luz, levanta os seus braços num gesto que relembra a crucificação. Ao mesmo tempo, ele eleva-se no ar como no Ressurreição. À sua esquerda encontra-se suspenso no ar Moisés que segura as Tábuas da Lei e à sua direita, do mesmo modo, está Elias, segurando os livros das suas profecias. Os apóstolos Pedro, Tiago e João estão no topo do Monte Tabor, mas Pedro é o único que vê a Transfiguração diretamente. Nos atos dos Apóstolos, Pedro é o único que o descreve aos fiéis. Uma criança possessa revira os olhos de forma anormal, enquanto os seus familiares e os apóstolos aguardam por um milagre. Os nove apóstolos que permaneceram na base da montanha estão impedidos de curar o menino.

Raphael, A Transfiguração, ca. 1530, Cidade do Vaticano, Pinnacoteca Vaticana

terça-feira, 4 de agosto de 2015

A criação de Eva

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O Génesis situa a criação de Eva depois do repouso do sétimo dia, como se ela não tivesse sido prevista no plano inicial da criação.
Deus não extrai o seu corpo da terra como o do homem: fá-la sair de Adão para sublinhar a sua dependência.
"E disse o Senhor Deus: Não é bom que o homem esteja só; vou dar-lhe uma auxiliar semelhante a ele (...) Então o Senhor Deus fez cair um sono pesado sobre Adão, e este adormeceu; e tomou uma das suas costelas, e cerrou a carne em seu lugar;
E da costela que o Senhor Deus tomou do homem, formou uma mulher, e trouxe-a a Adão."
Os teólogos perguntaram-se porque foi Eva extraída da costela de Adão e não de outras partes do seu corpo. "Se tivesse sido extraída dos seus pés, Eva parecia inferior a Adão, e superior se tivesse saído da cabeça." Esta explicação de São Tomás de Aquino foi retomada pelo autor do S.H.S. De acordo com São Paulo e os teólogos da Idade Média, a criação de Eva que sai do flanco de Adão adormecido, é o símbolo do nascimento da Igreja que sai do lado aberto de Cristo na cruz. Esta concordância, com frequência ilustrada no século XIII nas Bíblias moralizadas e mais tarde no Speculum Humanae Salvatoris, explica porque é que a criação de Eva é mais frequentemente representada do que a de Adão.

Iconografia: Este tema comporta numerosas variantes.
1 - Adão está geralmente deitado, posto que o Génesis diz que Deus o havia adormecido durante todo o processo.
2 - O busto de Eva separa-se da costela de Adão que se expande sobre a cabeça da mulher.
3 - Eva sai totalmente formada do lado de Adão, como Atena saiu da fronte de Zeus, com a ajuda de Deus que lhe tende a mão.
4 - Eva aparece totalmente separada do corpo de Adão adormecido e une as mãos em frente ao Criador em atitude orante.
Adão e Eva, por vezes, adoram juntos o Criador ajoelhando-se diante Dele com as mãos unidas.

"A criação de Eva,'' cerca de 1488, Mestre Bartolome

domingo, 2 de agosto de 2015

Santa Maria Madalena

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Ela é identificada em várias momentos da vida pública de Cristo com variadas histórias e acontecimentos, arcando com um papel fundamental. É das poucas mulheres a quem o Evangelho refere com nome próprio, e que conheceu uma enorme transformação, pois seria a mulher a quem Cristo expulsou sete demónios, a mesmo que também acompanhou a Virgem a pé no caminho para o Calvário - participando na morte e sepultamento -, quem na manhã da ressurreição se dirige ao túmulo com perfumes e por fim a primeira a quem Cristo aparece. É identificada como sendo igualmente a irmã de Marta e Lázaro, vivendo uma vida dissoluta quando os seus pais morreram. Ao fazer as partilhas, Maria terá ficado com o castelo de Magdala daí o seu nome, até chegar à conversão, no momento alto da sua hagiografia quando lava os pés de Cristo com as suas lágrimas, os perfuma com preciosos perfumes, os enxuga com os seus cabelos - o que era símbolo da devassidão e imoralidade passa a instrumento de redenção. Depois da morte de Jesus e encontrando-se desterrada, retirou-se como eremita para um gruta onde viveu por trinta anos, comendo raízes. Com o tempo as suas roupas gastaram-se e romperam-se, sendo que os cabelo cresceram para a cobrir. Recebia constantemente a visita de anjos, que no dia da sua morte a terão levado a receber o SS, elevando-a depois ao céu.

Atributos iconográficos: O mais antigo e constante é o vaso de perfumes que quase sempre transporta, a longa a farta cabeleira, símbolo típico da mulher cortesã; As vestes amarelas - cor associada à sensualidade estão presentes também nesta imagem e em várias associadas à Santa; a Madalena penitente mostra-se com vestes andrajosas, com crânio na mão ou junto de si - símbolo da fugacidade da vida e um crucifixo junto do qual ora.Na pintura é possível perceber o crescimento dos cabelos para cobrir o seu corpo desnudo

É patrona dos perfumistas, ao qual os produtores de unguentos também reclamaram para si. Por causa do seu seu jarro, também se tornou patrono dos aguadeiros. Claro que não ficaram esquecidos os cabeleireiros e barbeiros e curiosamente dos hortelãos, pois quando Cristo lhe apareceu havia tomado o aspecto de um hortelão.

Maria Madalena penitente, Tintoretto, (Musei Capitolini, Roma, 1598-1602)

Benedicite (Benção do Pão)

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Um episódio da vida de Jeus que é representado frequentemente na arte, mas não tem por base nenhuma fonte textual, é a Benção do Pão no qual Jesus Cristo adolescente, sentado à mesa com Jesus e Maria, profeticamente executa o gesto da Última Ceia. Como boa mãe, Maria ensina Jesus a dar graças pela refeição que ela preparou e a partilhar o pão com aqueles que menos têm. Na realidade, o "pão" é o corpo de Cristo que é colocado no altar da Igreja e foi dado por Maria como dádiva. Esta relação com Maria e a Eucaristia está expressa na sua contemplação a seu Filho enquanto ele parte o pão, um acto que se irá transformar em sacramento.

Charles Le Brun, A Sagrada Famíla ou A Graça, 1655, Museu do Louvre, Paris

A sarça ardente e Maria

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O profeta Moisés, líder do povo hebreu, apascentava o rebanho do seu sogro Jetro nas encostas do Monte Sinai, quando viu uma sarça que ardia mas que não era consumida pelo fogo. Confuso pela invulgar aparição, começou a aproximar-se quando ouviu a voz de Deus ordenando-lhe que retirasse as sandálias dos pés, pois caminhava em solo sagrado. Posto isto, Deus confiou-lhe a missão de liderar o seu povo, que se encontrava oprimido na terra do Egipto como escravo, para a terra de Canãa. A sarça ardente é interpretada como símbolo da virgindade de Maria, ela que deu a luz Cristo e permaneceu intacta. Por esta razão, em algumas representações deste episódio os artistas adicionam a figura da Virgem segurando o Menino no centro da sarça com Jesus a segurar um espelho no qual duas figuras estão reflectidas. Este detalhe alude à Imaculada Conceição, e a Maria como "speculum sine maculae: o espelho sem mancha", a única figura humana que nasceu e viveu livre do pecado original, assim somente Ela poderia espelhar a figura de Cristo sem a distorcer.
Num próximo post falarei sobre o Pecado Original e sobre o facto de Maria ter nascido sem mancha de pecado e o que isso significa, pois parece haver uma série de dúvidas em relação a esse tema.

Nicholas Froment, A sarça ardente, 1476, Saint- Saveaux, Aix-en-Provence

Santa Quitéria

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Quitéria terá sido uma de nove irmãs, gémeas, nascidas alegadamente em território actualmente português, no séc. II da nossa era. Filhas do governador da província romana de Bracara Augusta, Lúcio Severo e de sua esposa Cálcia Lúcia. Na noite quem que as nove irmãs nasceram, Lúcio estava ausente acompanhando o imperador Adriano. Achando supersticioso o facto de ter gerado de uma só vez nove crianças, e com medo que o marido a acusasse de traição, chamou Cita, sua criada e mandou que as afogasse no rio Este. Mas esta, cristão em segredo, levou as meninas e entregou-as a Santo Ovídeo, arcebispo de Braga, que as baptizou e lhes deu os seguintes nomes: Quitéria, Eufémia, Germana, Liberata (ou Librada), Vitória, Basília, Marinha, Genebra e Marciana. Criadas por piedosas famílias cristãs, quando adolescentes tomaram conhecimento do seu destino e numas das perseguições aos cristãos foram presas e levadas diante do seu pai. Assim, ele desejou logo que Quitéria casasse com um cortesão de nome Germano que ela terá recusado tendo sido decapitada pelo próprio a 22 de Maio de 135.
Festa litúrgica: 22 de Maio
Iconografia:
Atendendo aos episódios iniciais da sua vida, relacionados com as suas irmãs, Santa Quitéria costuma ser representada juntamente com elas. Na sua representação tem a palma do martírio; representado com um cão na coleira; e com a cabeça nas mãos, que emerge do mar. Na representação de Santa Marinha, a jovem mártir possui como atributos a palma do martírio e a espada, instrumento alusivo à sua decapitação. Por sua vez, a iconografia de Santa Vitória coloca-lhe, na mão direita, a palma e na esquerda uma bandeja, sobre a qual se encontram dois seios. Neste aspecto particular, poderá ter havido alguma confusão iconográfica com sua irmã, Santa Marinha, a qual sofreu, efectivamente, queimaduras no peito causadas por um ferro incandescente.Santa Genebra possui, como atributos, a palma e um cutelo, sem que sejam conhecidos pormenores do seu martírio que justifiquem a representação de tal instrumento. O pouco que se conhece sobre Santa Marciana também não permite esclarecer o facto de se encontrar representada, no Santuário de Felgueiras, com a espada na mão direita, embora se compreenda a figuração do livro na esquerda. Por sua vez, Santa Liberata, devido ao facto de, segundo a tradição, ter sofrido o suplício da cruz, pode estar representada com os braços em cruz, como se estivesse crucificada ou, em alternância, sustentar a cruz numa das mãos, enquanto na outra apresenta a palma do martírio. A espada, como instrumento do martírio de Santa Eufémia, é um dos seus atributos, juntamente com a palma, como sucede com outras das suas irmãs.
Gravura do conjunto das nove irmãs, outrora veneradas no Colégio de São Lourenço, dos Religiosos Agostinhos Descalços do Porto

A Madonna e a Serpente

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Mesmo quando ainda estava a aprender a andar, Jesus revela o seu papel redentor e o de sua mãe. Aqui, Maria a Imaculada ajuda o Menino a esmagar uma serpente, o símbolo do pecado. Nesta imagem do pequeno pé de Jesus em cima do pé da Virgem, esmagando a cabeça enrolada de uma serpente, não existe o sentimento do triunfo divino sobre o inimigo; antes, sentimos a terna força de um amor que conquista o mal. De facto, Jesus é ajudado por sua mãe- a nova Eva, e divisa da Igreja - mas é o seu peso, não o de sua Mãe, que derrota o mal. A iconografia da Imaculada Conceição evoluiu deste conceito, talvez inspirado pelas palavras de Pio V na sua Bula que afirma o duplo, simultâneo esmagamento da cobra: " A Virgem esmagou a cabeça da serpente com a ajuda da Criança."

Caravaggio, Madonna del Palafrenieri, Galeria Borghese, Roma, 1605
 
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