quinta-feira, 16 de abril de 2015

O inferno


De formato horizontal, esta pintura é um dos mais raros exemplares do Renascimento português. 
Ao centro vemos o caldeirão, serve idealmente uma abordagem moralizante do inferno, que se traduz no apresentação ao espectador dos castigos inflingidos a uma série de pecadores por conta dos pecados capitais identificáveis. Da esquerda para a direita, e numa sucessão de figurações dinamicamente articuladas e espacializadas, representa-se o Orgulho nas três figuras femininas cujos rostos são queimadas num braseiro, a ser ateado por uma das figuras diabólicas. A Avareza e a Gula representam-se no grupo de figurações seguintes, no segundo plano, distinguindo-se entre si pelo tipo de matéria - moedas ou alimentos - que os dois pecadores, torturados com garrotes, são obrigados a ingerir. O diabo caprino serve o pecado da Gula, através de um odre em forma de porco. No primeiro plano deste grupo representa-se a Ira, protagonizada, no castigo, pelo diabo tapado com panejamento branco. A direita da pintura reserva-se para a Luxúria: o adultério convoca-se através das duas figuras em primeiro plano, feminina e masculina, enlaçadas pelos respectivos braços, emparceirando com a homossexualidade, através do jovem e do frade, no acto de serem acorrentados pelo diabo-pássaro de plumagem exótica. Finalmente, no caldeirão central, castigados no líquido fervente, sofrem os Invejosos. Aqui pode observar-se a presença de frades, um dos quais, em posição frontal, parece interiorizar o sofrimento como forma de expiação do seu pecado. Na boca do inferno, com a mesma forma e dimensão do caldeirão, entram, em posições invertidas, duas figuras femininas.
Um aspecto iconográfico obrigatório na abordagem a esta pintura é o respeitante à figuração do diabo que comanda o Inferno e às notas de exotismo com que é representado.

Inferno, autor desconhecido, c. 1520-30, Museu Nacional de Arte Antiga.

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