A publicação que vos trago hoje, há muito prometida, é sobre o tradicional presépio português. Ao contrário dos presépios que normalmente se encontram, com as típicas figuras da natividade, de cariz canónico ou apócrifo, como Maria, José, Jesus, o boi e o jumento, os Reis e os pastores, estes recebem um grande número de personagens que engrandecem largamente a representação do nascimento de Jesus.
Estas personagens representam geralmente um ambiente tipicamente rural do norte português - sem esquecer que há diversas variações no presépio português consoante a região - mas estas peças são produzidas em oficinas de Barcelos, cidado do Distrito de Braga. Deste ambiente rural fazem parte as artes e ofícios populares, a paisagem povoada de serras, grutas, rios, fontes e lagos, todos os animais domésticos que, hierarquicamente colocados, reflectem bem a realidade cristã do natal português. Montado no início do Advento, ele vai durar até ao Dia de Reis, a 6 de Janeiro, quando é finalmente retirado. O que o torna único é a sua carga iconográfica e simbólica, presentes nas mais diversas personagens. Além dos tipicamente referidos, é possível encontrar a velha e única igreja da aldeia onde será realizada a Missa do Galo e a Missa de Natal, costume que não se podia perder. Lá fora a banda de música toca os seus instrumentos numa felicidade assinalada pelo nascimento do Menino Deus, enquanto um grupo de bailarinos folclóricos dança. O padre assiste ao acontecimento. Os ofícios vão salpicando a paisagem de acordo com a região pelo que é mais comum em zonas pesqueiras encontrar pescadores e varinas e nas áreas mais serranas ver os moleiros com os seus moinhos de vento e as azenhas. As mulheres fazem parte deste universo nas figuras das lavadeiras que coram a roupa branca junto ao rio, nas leiteiras que carregam as bilhas à cabeça,as vendedoras de ovos, mel, fruta e aves a quem quase é possível escutar o pregão. Nas padeiras que incansavelmente colocam e tiram pão do forno, um ofício cheio de saber que era parte do universo feminino. Mas os pastores lá longe na serra com as suas samarras para os proteger do agreste inverno português, também estão presentes acompanhados do seu fiel cão. No cimo do monte pode estar o castelo, a presença do senhorio da terra e do seu poder local. Não é possivel esquecer os agricultores, tão importantes para a economia de um país que muito viveu do trabalho do campo. Claramente há muitas outras personagens de ofícios e até edifícios mas estes são os mais comuns de encontrar.
O fabrico e uso destas peças vai gradualmente caindo em desuso pois sendo artesanal é cada vez mais difícil encontrar quem as queira produzir. Contudo, este ano, o presépio tradicional português é candidato a Património Imaterial da Humanidade.