Não é novidade que os Evangelhos
Canónicos são quase completamente silenciosos no tema da infância de Jesus.
Duas passagens no Evangelho de Lucas é tudo o que se pode encontrar. Esta falta
de informações é preenchida pelos Evangelhos Apócrifos e pela Legenda Aurea. A
piedade e curiosidade populares fizeram surgir na arte várias temas que não são
de tradição bíblica e muitas vezes nem apócrifa. Muitos temas nasceram para
provocar sentimentos e emoções no espectador, caso contrário grande parte das
representações da virgem com o menino que se conhecem (entre outras) nem sequer
existiam.
Esta belíssima representação
mostra-nos Maria que alimenta Jesus com uma sopa, onde talvez o menino quisesse
tentar comer sozinho por segurar firmemente na sua mão uma colher. Sobre a mesa
há uma série de elementos que podem representar simples objectos do quotidiano,
ou então conter misticamente uma referência mais profunda que o autor quis
deixar bem claro.
O sacrifício de Cristo
(representado pela faca) que oferece o seu corpo (o pão) como redenção pelo
pecado original (a presença da maça), sendo o fruto oferecido pela serpente a
Eva e cuja presença da larva indica a corrupção. Maria, sempre jovem, apresenta
um delicado véu que na realidade não cobre os seus cabelos, usando-os soltos
finos e longos, como símbolo da sua pureza. (É desta forma que comumente vemos
as santas virgens serem representadas). Ao fundo junto da janela, um livro e
uma cesta aludem ás tarefas de Maria de oração e trabalho de fiação. São também
elas de tradição apócrifa que Maria tendo vivido no templo desde os três anos
de idade junto com outras meninas, foi a escolhida entre todas para tecer a
púrpura e o escarlate, os mais preciosos de todos os materiais.
Gérard David, A Madona e o Menino
com uma colher, c. 1515, Real Museu de Belas Artes
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